Batman: Arkham Asylum | Resenha

Postado por Jefferson Bruno On 15:17

Uma regra não escrita do mundo dos games aconselha quem é esperto a ficar longe de jogos licenciados. Normalmente o produto é feito às pressas para acompanhar o momento do lançamento de um filme ou simplesmente o hype de uma grande marca. Geralmente usam carcaças antigas de jogos conhecidos e as vestem com uma roupa bonita por cima. Mas não se engane: não importa o quão ultrapassada seja a jogabilidade, marca vende!

Raros são os casos, como o do clássico Dune 2 (1992), da Westwood, que foi licenciado a partir do filme Duna, de David Lynch, (por consequência, uma adaptação do clássico homônimo da literatura de ficção-científica de Frank Herbert). Pode não ter sido o primeiro Real Time Strategy, mas sem dúvida que seu sucesso estabeleceu o novo formato que iria perdurar na indústria em grandes sucessos até hoje.

Direto ao ponto: Batman: Arkham Asylum (PS3, XBox 360 e PC) não veio para inovar como Dune 2 ou GTA, no entanto pode ser considerado um perfeito exemplo de como unir diversas mecânicas bem sucedidas para otimizar ao máximo o aproveitamento de uma franquia conhecida.

Não bastasse isso, é digno de nota também a fusão de mídias, que foi buscar nos quadrinhos toda a riqueza do universo Batman para a construção da história pelo premiado e veterano Paul Dini, com um Homem-Morcego totalmente baseado no traço de Alex Ross (que trabalhou com Dini no clássico Batman: Guerra ao Crime).

À esquerda: arte de Alex Ross em Batman: Guerra ao Crime. À direita, Batman: Arkham Asylum.

Além de trazer as vozes originais de Kevin Conroy, Mark “Luke Skywalker” Hamill e Arleen Sorkin para reprisar seus marcantes papéis como Batman, Coringa e Arlequina, respectivamente, na série animada de 1995 (dá para sonhar com uma versão brasileira com Márcio Seixas?).

A animação inicial mostrando o Batmóvel dirigindo a mil no fluxo contrário da polícia (que ainda está indo para a cena do crime) levando o arquiinimigo para o Arkham é assombrosa e rica em detalhes, com por exemplo a placa de trânsito próxima ao manicômio avisando que caroneiros podem ser pacientes em fuga.

Animação de abertura + sequência inicial.

Extraordinário também é primeira a sequência de jogo, onde tudo o que você faz é andar com Batman enquanto acompanha os seguranças que levam o Coringa preso até as profundezas da unidade de tratamento intensivo. Quem quer pegar no controle e sair batendo pode não ter muita paciência, mas sem dúvida, a cena que equivale à sucessão de créditos iniciais de um filme, nos faz mergulhar de cabeça no clima torvo e insano que nos aguarda por pelo menos 15 horas de jogatina.

Obviamente o Coringa não fica algemado por muito tempo e logo descobrimos que tudo faz parte de um mirabolante e vilanesco plano. Com o Arkham nas mãos do palhaço, cabe ao Homem-Morcego passar a noite combatendo capangas marombados da penitenciária de Blackgate e claro, uma seleção de primeira de clássicos vilões como Bane, Croc, Hera Venenosa e Espantalho.

O jogo chegou a ser comparado ao neo-clássico Bioshock, por apresentar uma admirável combinação entre ação e exploração. O combate, sem dúvida é empolgante, justamente por ter movimentos tão fluidos que parecem coreografados.

Se você está chutando um criminoso à sua frente e decide golpear também o meliante atrás de você, na maioria dos jogos, o personagem se viraria 180° para combatê-lo de frente. Batman não precisa, ele pode facilmente agarrar a perna do bandido em seu chute frustrado e acertá-lo com uma cotovelada, sem ao menos olhar para trás.

Não se assuste ao saber que apenas um botão é responsável pelos golpes, pois para lutar é imprescindível combinar a porrada bruta com o botão de contra-ataque, movimentos de atordoamento com a capa, batarangues e pistola-arpão.

Mas o maior detetive do mundo não passa a noite toda brigando. Para a exploração, você fará muito uso do ‘Detective Mode’, algo muito parecido com aquela visão-sonar do filme Dark Knight. Com ela, você pode ver seus inimigos através de paredes, detectar superfícies que podem ser estouradas com seu bat-gel explosivo e procurar por soluções de enigmas do Charada (que o acompanha o jogo inteiro hackeando seu rádio e desafiando-o).

As investigações não são mais complexas que simplesmente usar a visão em ‘Detective Mode’ para isolar uma cena de crime e seguir trilhas de álcool na atmosfera, impressões digitais, rastros de DNA e etc.

O uso dela para resolver os enigmas do Charada é recompensador. Cada um dará 200 pontos de experiência, muito necessários para se comprar upgrades de batarangues, movimentos de combate, armadura e outros gadgets.

Isso pode ter sido um tiro pela culatra, no entanto, já que você é tão estimulado a usar a monocromática visão de detetive, que é bem capaz de passar a maior parte do jogo nela, deixando de aproveitar a arte maravilhosa dos cenários da ilha Arkham.

Ah, é isso mesmo que leu, ILHA Arkham! Adaptação mais que necessária, afinal, ninguém quer jogar por apenas 20 minutos explorando os aposentos da mansão clássica dos quadrinhos.

A instituição ocupa todo o terreno de uma ilha com complexos médicos, penitenciários, botânicos e até uma verdadeira fortaleza high-tech de tratamento intensivo subterrânea. E apesar de Batman poder andar livremente entre elas, o jogo é linear, colocando-o em cada uma delas em uma ordem pré-definida de acordo com o desenrolar da história.

Embora seja essencialmente um jogo de ação, transformar a cara de criminosos em mingau não é a única diversão. Enfrentar elementos armados cara a cara é suicídio, e neste momento o Cavaleiro das Trevas tem que ser silencioso. O elemento stealth lembra bastante o espírito de Splinter Cell, embora não haja necessidade de esconder os corpos (inconscientes, Batman não mata!).

Se esconder nas sombras, em dutos de ventilação, e espreitar pelo alto em gárgulas gera imensa satisfação (isso mesmo, existem gárgulas DENTRO dos aposentos do Arkham), ainda mais quando o Morcego plana de capa aberta para explodir com os dois pés no peito do meliante.

Outros gadgets também podem ser usados como armadilhas, como por exemplo, aplicar gel explosivo em uma parede frágil e detoná-la quando alguém passar. Também pode-se lançar um batarange sônico para atrair bandidos para o local certo, e vê-los desaparecer com o inverted takedown, uma verdadeira abdução vinda do alto.

Aliado a tudo isso, há o valor inestimável de todos os easter eggs para verdadeiros fãs, como a corrida de Batman, tirada da apresentação animada da série dos anos 60, e outros detalhes preciosos, como bandidos que arrancam canos da parede para bater no herói ou o uniforme e capa que vão se rasgando com o passar da noite infernal.

Lembrando que os donos de PS3 ainda poderão baixar um add-on para jogar fases especiais com o Coringa. Megaboga!

Trailer: Vilões.

Batman: Arkham Asylum faz jus ao hype e ao reconhecimento que recebeu. Um jogo a ser lembrado como exemplo para qualquer licenciamento futuro, que mostra como tratar uma franquia conhecida com respeito e devoção traz resultados muito além do esperado.

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